Dúvidas aquilinas: A Cidade Baixa

domingo, 24 de janeiro de 2021

A Cidade Baixa

Na Cidade Baixa

passeávamos tranquilamente

Cada palmo de rua da península

foi lido por nossas pegadas

que foram polidas pelo mar e pelo vento.

(José Carlos Sant Anna)

Um comentário:

lis27 de janeiro de 2021 22:02
O que somos veio desse berço, dessa paisagem, das maneiras peculiares de ser e fazer. Cidade de poetas, de comidinhas afrodisíacas, de rainhas do gingado e do Pelourinho.
Bahia, Soterópolis, maravilhosa! preciso voltar e caminhar assim também 'tranquilamente'.
Abraços, JCarlos
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Imponderável

Outrora havia um desejo sem impasse, um regozijo alvoroçado. Hoje trago as analogias dos amores perdidos e os tiros de desespero no escuro, agulhas desertas no deserto dos meus sonhos vítreos como as ondas de volúpia entre os látegos do meu corpo e a passividade do teu. E o meu olhar na lassidão da noite é prosa gasta, corpo vestido de sombras, espelho fosco na avenida da alegria que esvai gota a gota o vinho da outorga e da libido da moral dos velhos mercados e dos secos & molhados da natureza sob teu corpo de cristal.

(José Carlos Sant Anna)

Meditação bizantina (I)

vagarosamente cavou um buraco fundo em busca de uma flor branca dissimuladamente. depois um pouco mais dissimuladamente ainda pensou quanto renderia aquela flor e quão profunda é essa gente que cava o topo de um buraco para corrigir a falha de um olho, drenando partículas rotas, sem que o céu tenazmente pudesse vê-las orladas de nuvens, que se estendessem por debaixo do sol.

depois girou a cabeça insensivelmente revelando intimidade maior com a dor, e o tronco já abatido mas altivo, rua de mão única, manto de cal, adernou sobre as mãos pálidas, sem que desabasse inteiramente.

desde a eternidade essa gente vive à sombra, entre o clarão do bosque e um bando de gentios, numa adoração que não é de anjo, mas de coveiro.

José Carlos Sant Anna – abril/2013

Meditação bizantina (III)

Algumas frases fortuitas em barcos precários ficaram ao vento quando tu assomaste em torpor. Ao passarem as barreiras, os cabelos ao vento, os pântanos abrasivos, tua sombra se rendia. E os ideogramas perdiam a forma.

Do alto do outeiro, ávidas, se estendiam cabeças quando nem sequer o pássaro cantava e a neve cobria as gemas do ninho e, extravasando a cumeeira, uma substância branca sem rastro humano exalava um odor incomum.

Um horror infinito não me deixava ir a lugar nenhum. E nenhuma palavra seria tão intensa, o melhor seria passar ao largo.

José Carlos Sant Anna - abril/2013

Perfil

Liberto como um sopro que se esvai pelo ar, sou um corpo que cai e, com o baque surdo da queda, levanto a poeira e me sento silenciosamente à beira do caminho olhando em volta a água que não se cansa de escorrer pela concavidade da terra, enquanto o medo se inscreve em discreta pulsação e só o peso do silêncio me tranquiliza.
Agarrado à vida como visgo, sou o que não dá o braço a torcer e dá a volta por cima; sou o que herdou do mundo um nome sem igual para que não houvesse mais confusão na minha vida enquanto eu estivesse vagando pelas ruas ou quando eu me encontrasse com uma mulher tenra para afogar-me no seu orvalho e ela não trocasse o meu nome em momento tão pluvial.

Dúvidas aquilinas

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