a esponja já não apaga as linhas da
memória, as sombras de vários acontecimentos perdidos nas minhas retinas. os
signos amorfos do antimofo de quase um minuto atrás, aquela matéria do sonho já
escrita, as citações das minhas quimeras. nada escapa agora dos meus dedos
vorazes, e o lápis traz o imaginário tecido por fios de raio laser, cópia blasé
da sintaxe enfurecida que um gramático em férias engendrou no cafè au
printemps. Talvez nem isso, mas, quando o meu ego já tinha uma piração
fenomenal do vazio da noite no bazar do meu inconsciente, um empedernido ator
chinês já fazia a compra de enredos para uma escola de samba dos arredores de
paris ou o mundo desabava no mar português em pânico, que é como eu me sentiria
ao escrever as pequenas histórias dos heróis, que não seriam senão clichês do bas-fond
de enredos medíocres, se a tpm de alzirinha, prá lá de esquisita, não se
embarafustasse pelos meus sentidos nos happy hours, sem nenhuma roupa.
à sombra da fina flor, de escuro desenho, o meu desejo soletrava as rasuras da
voz de adriana calcanhoto pelas avenidas e pelos tiranos becos de feitio
romântico da velha salvador.
É só o que me resta: a vereda das palavras, os espasmos entre o dia e a noite, as pernas de Marilyn e o escorpião do qual não me separo.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
despenteando as palavras na quarta-feira de cinzas
adeus, melro. não
acabara de escrever essa frase e me dei conta que o filme não saíra da minha
cabeça, legítimo, intacto, ainda que fosse uma cena que eu guardasse na memória
sem o saber, mas isso pouco importava nas moedas descoloridas que iluminavam o
cenário.
disperso, até que
acabasse tudo o que era meu, perdido, ali sentado na acolchoada poltrona do
cinema, percebera que não adiantava insistir porque a história se confundiria
com outras.
O que sei é que essa
história jamais seria contada por qualquer outro cineasta, e o que havia, já
tinha sido posto no dia de hoje, bastava; e digam o que quiserem dizer há de
chegar a minha vez sem que me digam o que me aguarda, ainda que seja uma
surpresa, pois lhe digo que aprendi atravessar o samba na avenida antes que o
tango se tornasse um achado entre los hermanos.
se eu não me engano,
dizem que o tango é a língua dos pés de valsa, nasce pronto e, ainda por cima,
rápido, com apenas um olho, incandescente, para andar comigo, para ensinar-me
de onde partem todas as linhas, que a mim pertençam ou não, que dialoguem entre
si, sobretudo, sejam destinos sem dono, mistérios que se comuniquem, onde tudo
comece para chegar aonde meus olhos alcancem o verdadeiro tamanho da falta de
quem ama.
o poeta gosta de
saber o que queres que ele te diga por que lhe agrada ter horas antes das horas
à procura do silêncio. É a isso que ele busca, é isso também o que lhe basta.
eu que não sei o que
faço quando me ponho a escrever, descubro que a montanha se move, pois escrever
é ter uma caneta à espreita, se bem entendido.
eis, pois, a folha
branca, não sei se sairei com as cajás no meu embornal depois de tanta
caipirinha no meio da pipoca.
agora acendo um cigarro e, enquanto a fumaça se dissipa no
abismo da minha sede, aguardo que a febre do dia passe com o perdão da minha
nudez na manhã dessa quarta-feira de cinzas ensolarada.
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